Após relatórios positivos de recuperação do PIB nacional, a Índia está de novo nas manchetes, pois o Banco da Reserva da Índia (RBI) se prepara para tirar de circulação a nota de maior valor nominal do país. A nota de 2.000 rúpias só foi introduzida em 2016, mas agora está sendo retirada de circulação no âmbito da "política de notas limpas" do país para reduzir as notas de baixa velocidade. A nota será gradualmente eliminada nos próximos quatro meses, até setembro de 2023. Muitos poderão se perguntar por que isso é significativo para os mercados mundiais. Pois bem, a Índia não é apenas uma das maiores economias dos BRICS, ela também está crescendo a uma das taxas mais rápidas do mundo, tanto em termos de PIB como de população.
E é precisamente essa população massiva que tem poder para movimentar os mercados, especialmente quando se tem em conta alguns fatores especificamente indianos, como uma propensão para os metais preciosos e grandes transações à base de dinheiro. Com muitos analistas sugerindo potenciais altas no ouro e bens de consumo duráveis em resposta a estas notícias, analisaremos os fatores por trás dessas projeções e avaliaremos o impacto real esperado nos mercados globais.
Febre dos metais
É um fato bastante conhecido que os indianos são loucos pelo ouro físico. Na verdade, ele é de longe o veículo de investimento mais popular para os investidores do subcontinente, com 53% dos indianos afirmando que estão atualmente investindo em ouro. Quando falamos sobre um país com uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, é fácil ver como um grande movimento, de um jeito ou de outro, poderia ter um impacto palpável no mercado global do ouro.
Analistas sugeriram que as grandes quantidades das notas de 2.000 rúpias de alto valor flutuando na economia poderiam levar os indianos a usar as notas investindo em seu instrumento de longo prazo preferido, o ouro. Claro, eles terão permissão para trocá-las nos bancos por notas de menor valor. No entanto, haverá um limite de transação de 20.000 rupias por pessoa. A ideia é que muitos agricultores e outros trabalhadores sazonais, que muitas vezes recebem grandes pagamentos em dinheiro na época da colheita, vão preferir comprar ouro em vez de digitalizar sua riqueza. Em todo o caso, o efeito sobre os preços do metal amarelo a nível mundial será claramente modesto, mas poderia ter impacto suficiente para impulsionar o ouro, com um preço já flutuante, acima de sua resistência principal de US$ 2.000 e para uma nova alta histórica, se o ciclo altista for genuíno.
Grandes gastadores
Como já foi dito aqui, a Índia continua sendo uma economia baseada em dinheiro físico. As transações digitais têm aumentado exponencialmente nos últimos anos, mas um grande número de participantes desta economia em grande medida agrária ainda lidam quase exclusivamente com dinheiro, o que significa tipicamente notas de alto valor. Além de ouro e prata, outra opção que se espera que muitos indianos adotem, quando se trata de se livrarem das suas notas de 2.000 rupias, é a compra de artigos de alto valor. Isso poderia significar qualquer coisa, desde itens de alta tecnologia, como smartphones, televisões e laptops até eletrodomésticos ou mesmo bens de consumo duráveis como novos veículos. Não é como se os analistas estivessem sugerindo que todos os indianos vão sair de casa um dia e comprar um caminhão novinho em folha, mas qualquer compra desses itens planejada para os próximos um ou dois anos pode muito bem ser antecipada como forma de usar algumas das cédulas prestes a serem retiradas de circulação.
Sendo a Índia um dos principais produtores de bens para consumo interno, isto será provavelmente muito positivo para o PIB do país, que poderá ultrapassar os 9% durante o ano em consequência disso. O aumento das vendas de varejo também representaria provavelmente uma vantagem para os preços das ações dos maiores conglomerados indianos, como Mahindra, Tata e Reliance.
Não é a primeira experiência da Índia
Muitas vezes temos tendência a dramatizar excessivamente o efeito de tal mudança por parte de um banco central, mas a realidade é que a Índia viveu um acontecimento muito mais abrangente e perturbador há menos de uma década. Em 2016, o Banco da Reserva da Índia suprimiu totalmente 86% da moeda nacional indiana em circulação durante o seu famoso movimento de "desmonetarização", que viu todas as notas de 500 e 1.000 rupias da série de Ghandi serem retiradas de circulação num período muito curto. Desta vez, apenas uma nota será removida e uma que é muito menos trocada do que as duas acima mencionadas. O Banco da Reserva da Índia também está fornecendo orientações muito claras e respostas às Perguntas Frequentes, um passo que se espera que reduza significativamente o pânico em comparação com o de seis anos atrás.
Além da existência de um fornecimento suficiente de notas de 100 e 500 rupias para aqueles que dependem fortemente das transações em dinheiro, a rápida adoção dos pagamentos digitais em todas as áreas demográficas irá também minimizar o impacto da retirada da nota de 2.000 rupias. No que se refere a rupia em si, espera-se que a retirada de circulação tenha pouco ou nenhum efeito sobre a taxa de câmbio a longo prazo. Haverá, é claro, um aumento temporário na demanda à medida que as notas forem trocadas, bem como uma ligeira queda na oferta (cerca de 10% da oferta monetária total), mas esse impacto é projetado para ser menor e de curta duração.
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