Após as altas vertiginosas do boom cripto pós-pandêmico, 2022 foi um ano particularmente ruim para as moedas digitais. De uma alta de US$ 64.400 em novembro de 2021, o Bitcoin caiu para menos de US$ 17.000 no final do ano seguinte, com alguns investidores acumulando perdas de mais de 70%. Mas então algo inesperado aconteceu. Em meados de abril de 2023, a criptomoeda original teve ganhos de quase 100%, rompendo a principal resistência psicológica de US$ 30.000.
Muitos atribuíram esse ressurgimento do tipo fênix à turbulência financeira e à incerteza que governou o mercado ultimamente. Primeiro, tivemos o escândalo da FTX, depois o colapso do Signature e do SVB e parecia que o First Republic Bank em apuros seria a próxima peça de dominó a cair. No entanto, depois que os reguladores tomaram posse do banco, o JPMorgan Chase interveio para assumir a maioria de seus depósitos e ativos, encerrando a saga de meses e prometendo estabilidade para o futuro - para grande desgosto do Bitcoin, que respondeu imediatamente com uma queda de 4,2% na segunda-feira (01/05/2023). Mas o que está por trás da correlação recém-descoberta do Bitcoin com a volatilidade e o que o contexto econômico mais amplo prevê para o BTC durante o restante de 2023?
Ouro digital… ou algo assim
Desde que o Bitcoin surgiu, seus fãs tentaram lançá-lo como uma nova alternativa ao histórico metal dourado. Bem, é limitado em oferta e impossível de falsificar, mas, até recentemente, era aí que as semelhanças terminavam. A imensa volatilidade e correlação do Bitcoin com ativos de alto risco sempre o descartaram como uma reserva de valor ou cobertura contra a inflação. No entanto, desde o influxo de capital institucional pós-pandêmico, as coisas parecem estar mudando. Sim, o BTC perdeu cerca de 70% de seu valor ao longo de 2022, mas também muitas das principais ações de tecnologia, como Shopify e Square.
Desde janeiro de 2023, no entanto, superou praticamente todos os outros instrumentos – um fato que só pode ser atribuído ao seu apelo como uma reserva de valor de longo prazo, que os investidores acreditam ter um valor intrínseco acima das mínimas locais do final de 2022. Conforme os bancos centrais lutam para combater a inflação e preservar as economias nacionais, o destino de todo o sistema fiduciário está em jogo. Alguns sugeriram que um retorno ao padrão ouro ou mesmo Bitcoin será necessário. Aconteça o que acontecer, os dados são claros no sentido de que as gerações mais jovens preferem moedas digitais a metais preciosos e, portanto, é totalmente viável que o Bitcoin substitua o ouro como cobertura preferencial. Para que isso aconteça, o Bitcoin precisaria aumentar de valor acima de US$ 100.000, o que alguns previram que pode acontecer até o final do ano.
Minere na lacuna
Qualquer discussão sobre o valor intrínseco do Bitcoin e, portanto, a possível ação futura do preço não estaria completa sem uma visão geral da situação no mercado de mineração. O ano anterior de dor para o BTC foi acompanhado por um fenômeno incomum: a dificuldade e o custo da mineração aumentaram exponencialmente em um momento em que os preços estavam em queda livre. Como resultado, a Hashrate Index e a Luxor agora estimam que custa aos mineradores pelo menos US$ 17.000 para produzir um BTC nos Estados Unidos, o que é significativamente mais do que os US$ 5.000-10.000 de um ano atrás, quando os preços eram quase o dobro do nível atual.
A razão para esse aumento na dificuldade e no custo é complexa, mas um fator que obviamente contribuiu foi a enorme inflação de energia que vimos. Existe um consenso geral de que os preços da eletricidade irão cair durante a segunda metade do ano, com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA prevendo quedas no preço por kWh e na demanda geral. Isso, por sua vez, permitirá que as mineradoras aumentem suas margens, mas esperamos que o BTC permaneça bem acima de seu custo intrínseco. A dificuldade, no entanto, também dependerá de atualizações tecnológicas e aumentos de capacidade dos principais mineradores e qualquer aumento significativo aqui também terá o potencial de elevar o preço do Bitcoin.
A FED com a inflação
O último e não menos importante fator será a política dos bancos centrais no contexto econômico mais amplo, com o Federal Reserve dos EUA assumindo o papel de liderança, como sempre. Como o regulador dos EUA permanece entre a cruz e a espada em meio à pressão para conter a inflação e a necessidade de apoiar um sistema financeiro precário, algo eventualmente terá que ceder e isso levará necessariamente a uma fuga para a segurança ou a um retorno ao risco.
A questão é, no entanto, em qual categoria o Bitcoin agora se encaixa em um cenário econômico em constante mudança e se as criptomoedas ainda estão correlacionadas com alguma coisa? A sabedoria convencional sugere que, se o Fed continuar com seu objetivo declarado de aumentos adicionais de taxas, isso deve levar a uma diminuição do apetite por opções de alto risco como o Bitcoin. Porém, isso pode muito bem ter o efeito oposto, já que a experiência recente mostrou que o BTC agora é visto como um ativo sólido desejável para manter em tempos de incerteza econômica. Se, no entanto, o regulador for forçado a retornar ao modo de estímulo, os dados históricos indicariam que o Bitcoin poderia subir em sincronia com as ações, como acontecia anteriormente.
Parece que estamos em uma espécie de encruzilhada cripto e 2023 pode ser um momento seminal para o Bitcoin e as moedas digitais em geral, visto que essa classe de ativos, que já não é mais uma novidade, abandona suas correlações anteriores e começa a moldar seu próprio perfil híbrido exclusivo, tanto como reserva de riqueza quanto como instrumento especulativo.
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